Uma fonte de receita em crescimento — com dilemas à parte
Para o ano de 2026, o governo português prevê arrecadar cerca de 228,4 milhões de euros através de jogos sociais geridos pela Santa Casa da Misericórdia de Lisboa — incluindo as raspadinhas. raspadinhasemportugal.com
Este valor representa um crescimento face à previsão para 2025, que situava a receita em cerca de 212,8 milhões para os mesmos canais. raspadinhasemportugal.com
Além disso, em 2024, as vendas brutas dos jogos sociais totalizaram ~3 142,9 milhões de euros, dos quais ~1 848 milhões corresponderam apenas às raspadinhas. raspadinhasemportugal.com
O que está em jogo
Este tipo de receita pública tem dois lados:
- Por um lado, são recursos que entram nos cofres do Estado e que podem financiar políticas sociais, saúde, cultura ou outros serviços públicos. raspadinhasemportugal.com
- Por outro, essa receita depende de comportamentos individuais que podem envolver risco de dependência, perdas pessoais e impactos sociais. Como o artigo destaca: “até que ponto granjear receita pública através de jogos de azar é compatível com a proteção dos cidadãos?” raspadinhasemportugal.com
O contexto das raspadinhas
As raspadinhas são um segmento dominante: em 2024 foram ~1 848 milhões de euros em vendas brutas. raspadinhasemportugal.com
Ou seja, mais de meio dos jogos sociais (naquele ano) vieram deste tipo de produto.
Para o jogador médio, isto significa que o «bilhete de raspadinha» faz parte de algo muito maior — uma atividade que movimenta dezenas ou centenas de milhões de euros anualmente.
Os riscos invisíveis
O relatório destaca alguns dos riscos associados:
- A facilidade de acesso e o carácter instantâneo do jogo favorecem a repetição e o impulso. raspadinhasemportugal.com
- Mesmo bilhetes com baixo custo individual podem, ao longo do tempo, resultar em gastos acumulados elevados. raspadinhasemportugal.com
- A crença de que «já perdi tanto, agora tenho de ganhar» ou «amanhã será diferente» (falácia do jogador) continua a manter o ciclo de apostas. raspadinhasemportugal.com
Estes riscos tornam-se mais agudos quando o jogador está financeiramente vulnerável ou emocionalmente fragilizado.
O papel do Estado e a necessidade de equilíbrio
O Estado, ao gerir ou regularizar estes jogos, tem responsabilidade acrescida:
- Garantir transparência nas probabilidades, nos prémios e na informação ao público. raspadinhasemportugal.com
- Promover activamente o jogo responsável, através de campanhas e de canais de apoio para quem desenvolve comportamentos problemáticos. raspadinhasemportugal.com
- Balancear o benefício da receita com a prevenção dos danos sociais associados. É uma equação delicada: se a receita cresce porque mais pessoas jogam, isso poderá significar mais risco para alguns grupos vulneráveis.
Recomendações para quem joga
Para quem participa em jogos de raspadinhas ou outros jogos sociais, algumas práticas úteis:
- Estabelece um orçamento máximo mensal para este tipo de entretenimento e cumpre-o rigorosamente. raspadinhasemportugal.com
- Verifica que estás a jogar por lazer, não por necessidade de ganhar ou de recuperar perdas. raspadinhasemportugal.com
- Não uses créditos ou empréstimos para jogar. raspadinhasemportugal.com
- Conhece a estrutura do jogo: quanto custa cada bilhete, qual a probabilidade de prémio, qual o montante de prémio médio. Isso ajuda a formar expectativas realistas. raspadinhasemportugal.com
- Se sentires que perdeste controlo – por exemplo comprando frequentemente, ocultando, ou com ansiedade – considera procurar ajuda.
Considerações finais
O facto de as raspadinhas gerarem receitas de centenas de milhões de euros não é só um dado económico: é um sinal de que uma parte significativa da população participa nestes jogos. O desafio é garantir que essa participação seja feita de forma consciente, informada e com controlo.
Se a política pública, a regulação e os mecanismos de apoio funcionarem bem, o jogo pode continuar a ser entretenimento. Caso contrário, transforma-se noutro tipo de custo para o bem-estar individual e coletivo.
